POR BOB FERNANDES, DIRETO DE LONDRES
Quem está no Parque Olímpico ou mesmo a até 10 quilômetros de distância, não tem como não ver aquele monumento ao lado do estádio. Em forma de espiral, com 115 metros, suas duas toneladas de aço pintado em vermelho brilhante esticam-se em direção ao céu. O monumento é um símbolo de poder. Poder do terceiro homem mais rico da Terra, o magnata do aço Lakshmi Mittal. O nome daquilo que se parece com uma estrutura de DNA já diz tudo. É o Arcelor Mittal Orbit.
Lakshmi é um ícone desse início do século XXI. Nascido na Índia, o dono da Arcelor-Mittal, o maior conglomerado de aço do mundo, é um símbolo da ascensão de países até outro dia periféricos, como a Índia.
Para se tornar o terceiro homem mais rico do mundo, Mittal amealhou uma fortuna estimada em R$ 50 bilhões.
O magnata fez questão de cravar seu nome na história dos Jogos de Londres 2012. E o fez, e segue fazendo, de várias formas.
Mittal, que começou como contador em Calcutá, patrocina atletas da sua Índia desde os Jogos de Atenas. Como apoia artistas e filmes de Bollywood, a Hollywood dos indianos.
Nos jogos de Londres, o magnata marca presença de várias formas. Num trecho da cidade, ele carregou a tocha olímpica. Na semana de abertura das Olimpíadas, patrocinou uma festaça na Galerie Serpentine, em Kensington Gardens.
Nestas duas semanas, o bilionário mostra como é possível juntar aço, arte e esportes, e mais milionários, para fazer ainda mais dinheiro.
Mittal e seu filho Aditya recebem e hospedam 100 dos maiores empresários do mundo no setor do aço e seus muitos derivados. Outros 100 virão, como convidados dos Mittal, até que os Jogos sejam encerrados.
Todos com as despesas pagas e com ingressos para os jogos. Negócios à parte, o ponto central do tour: a visita à Arcelor Mittal Orbit. Lá, o indiano gravou de vez seu nome na história da cidade.



O monumento custou 23 milhões de libras e disso Mittal pagou 19,6 milhões do seu bolso; algo como R$ 62 milhões ao câmbio de hoje. E pagou porque Boris Johnson, o prefeito de Londres, pediu.
Também o prefeito queria deixar sua marca pessoal e política nos Jogos. Num encontro casual no Fórum Mundial de Davos, há dois anos, disse isso a Mittal. O magnata, de imediato, ofereceu-se para pagar a "marca" a ser criada, fosse o que fosse. A prefeitura entrou com 3,1 milhões de libras (R$ 9,9 milhões).
Os Mittal gostam de gastar. Lakshmi mora na mansão, em Kensington Palace Gardens, que comprou de Bernie Eclestone, o dono da Fórmula 1. Pagou a bagatela de R$ 210 milhões.
A mansão onde os Mittal têm recebido para festas e banquetes nestes dias olímpicos tem joias encravadas na piscina, mosaicos em ouro e salão de baile… e tem como vizinhos o Palácio de Kensington e o sultão do Brunei.
Lakshmi, nascido a 15 de Junho de 1950 em Sadulpur, Rajasthan, Índia, casou a filha, Vanisha, no Chateau de Vaux le Vicomte. A festinha na França, para 1.500 convidados, durou cinco dias e custou quase R$ 100 milhões.
O filho, Aditya, que nessas olímpicas semanas secunda o pai, não teve menos. Casou-se no Memorial Victoria, em Calcutá. Elefantes cobertos de pedras preciosas chamaram alguma atenção no casório de Aditya.
Dono de ativos siderúrgicos na Europa Central e Oriental, África do Sul, Indonésia, Estados Unidos e… Mittal emprega 260 mil trabalhadores em 60 países.
Em Londres, para deixar sua marca para sempre, Mittal contratou duas pessoas.
Cecil Balmond, nascido em Kandy, no Sri Lanka, é o engenheiro que deixou em pé o monumento de 115 metros vizinho ao Estádio Olímpico. Anish Kapoor, indiano, é o artista que pensou e criou o Mittal Orbit.
Kapoor, célebre artista nascido em Bombaim e formado na Inglaterra, teve e tem obras exposta no MoMa, em New York, no Guggenheim/Bilbao, na Tate Modern, em Londres, em Milão, no Japão…
Balmond diz que vai assistir ao encerramento dos Jogos Olímpicos lá do alto da Torre por ele construída. Kapoor gargalha antes de perguntar:
- Não é fantástico termos construído isso?
Anos atrás, na sua busca por mais e mais aço e ativos, Mittal fez um tour pela Europa. Então enfrentou críticas pesadas, como agora tem enfrentado sua torre olímpica, tida por muitos como uma homenagem ao aço desconhecido.
À reação europeia xenófoba de anos atrás à sua fome de aço o magnata respondeu. Com mais e mais ativos e com uma frase:
- Se fiquei surpreso com a reação da classe política europeia à oferta da Arcelor? Não, não fiquei surpreso, apenas fiquei triste…
Balmond, do Sri Lanka. Kapoor, da Índia. Mittal, da Índia. Os três e sua torre enfiada goela abaixo dos ingleses representam, como pouca coisa mais, a ascensão da Índia. Do Oriente. Dos novos jogadores no mapa de poder do mundo.
Não é pouca coisa. Os Jogos Olímpicos mostram para o mundo a cidade, Londres, que já foi o centro do maior império da Terra. No ponto mais acintosamente visível, esses dois senhores, Balmond e Kapoor, fincaram a estaca de Mittal.
Balmond e Kapoor, nascidos em antigos quintais do Reino Unido. Como Lakshima Mittal. Que nesses dias desfila e exibe todo o seu poder. E os seus bilhões.
O magnata do aço não esconde o prazer de exibir para o mundo sua fálica Arcelor Mittal Orbit.

E SERÁ QUE ESTE RICAÇO NÃO QUER PATROCINAR TAMBÉM NA RIO 2016?